segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Soneto de Eurydice

"Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.
 
Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.
 
Porém nem nas marés nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.
 
E devagar tornei-me transparente
Como morta nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente."
 
Sophia de Mello Breyner Andresen  em "No Tempo Dividido"

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