sábado, 6 de junho de 2015

A Luta pela Terra

"Retrato de criança no assentamento de Barra do Onça,
próximo ao município de São Francisco de Canidé. Aí, 102
famílias conseguiram há alguns anos suas parcelas individuais
de terra e possuem em comum 850 vacas leiteiras, cuja produção
diária ultrapassa os 5 mil litros. É a maior unidade do sector
em Sergipe e a única em que se fazem duas ordenhas por dia.
Sergipe, 1996."
 
"Existem dezenas de milhares de famílias brasileiras que vivem em acampamentos à beira das estradas em vários pontos do país. São famílias de sem-terra que aos poucos vão-se juntando e formando verdadeiras cidades, às vezes com uma população de mais de 10 mil habitantes.
As condições de vida são as mais rudimentares; falta tudo: água, alimentação, instalações sanitárias, escola para as crianças, assistência médica, etc. Além disso, essas pessoas vivem em grande insegurança, sujeitas às provocações e violências por parte dos jagunços e outras forças de repressão organizadas pelos latifundiários, que temem a ocupação de suas propriedades improdutivas. A situação nessas "cidades" é de facto pior que a dos campos de refugiados na África, pois os sem-terra não contam com a protecção das autoridades, não recebem assistência institucional e nenhuma organização humanitária ou a Organização das Nações Unidas lhes presta socorro.
Seja como for, os deserdados da terra alimentam a esperança de melhores dias. E uma coisa é certa: não querem mais fugir para as cidades, que já não podem absorvê-los, dar-lhes trabalho e condições dignas de vida. Preferem, pois, resguardando-se das ameaças da delinquência e da prostituição dos grandes centros urbanos, permanecer nos acampamentos à margem das estradas e esperar pela oportunidade de ocupar a terra tão sonhada, mesmo correndo risco de vida. Seus projectos são idênticos: lavrar um pedaço de terra finalmente seu, construir uma casa para a família, assegurar o sustento desta e, por meio da cooperativa a ser criada, comercializar os excedentes de sua produção agrícola, garantindo a manutenção de escola para os filhos. É esse, em síntese, o sonho comum dos sem-terra."

"Terra" de Sebastião Salgado

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