Representando a problemática da reconstituição do passado, nesta extensa metáfora narrativa, percorri muitos caminhos conducentes à secundarização da figura de Walter Dias, o desenhador de pássaros, e priorização da filha-sobrinha.
De temperamento observador, analítico, imaginativo, com tendência para a retrospecção, sabemos ser a menina de Valmares leitora da Ilíada (" ... tem o início d' A Ilíada dentro das pálpebras, tem uma infinidade de mortos aqueus e troianos estendidos na sua língua, tem o fim daquele livro na cabeça ... Cap.55 - Pág. 143) e, atentando no que diz Maria Ema, de outros "textos antigos solenes" (Cap.64 - Pág. 166).
A familiaridade com estes textos faz com que encontremos no seu discurso narrativo, ecos de alguns aspectos míticos, mitológicos, poéticos da Ilíada.
Esse discurso constitui-se de fragmentos de memórias difusos, obscuros, ambíguos, com permanentes avanços e recuos, que fazem desta narrativa um texto belíssimo, denso, complexo, no qual, embora reconheça a existência de alguma matéria de facto, por vezes, muitas vezes, não apreendemos o que aconteceu, o que possivelmente poderá ter acontecido e o que definitivamente não aconteceu.
Afinal, a menina de Valmares "sempre havia transformado o que escutava" (Cap.6 - Pág.19).
Inquestionável, é, o facto de que a narradora escreve uma história para Walter.
"Então, para que Walter saiba"
Imagina, reimagina, compõe, recompõe, supõe, de forma que, ficcionando a vida do pai biológico, ficciona também a sua. Talvez desejando para si uma narrativa diferente do que poderá ter realmente vivenciado.