"Camille Claudel 1915
de Bruno Dumont (França)
com Juliette Binoche, Jean-Luc Vincent, Robert Leroy
Drama/Biografia
Duração: 93'
Sinopse:
Inverno de 1915. Confinada pela sua família a um asilo no Sul de França onde nunca mais irá esculpir. Esta é a crónica da vida em reclusão de Camille Claudel, enquanto aguarda a visita do seu irmão, Paul Claudel."
No mínimo intrigante o caso da escultora Camille Claudel (irmã do escritor Paul Claudel e amante de Auguste Rodin) internada pela família numa instituição psiquiátrica por alegada doença paranoide ou esquizofrénica.
Intrigante pela racionalidade e algum equilíbrio patentes nas atitudes da artista que chega inclusivamente a ajudar a tomar conta de outros pacientes, esses sim doentes mentais profundos.
Assistimos à sua afectividade para com alguns, a expressões de ternura enquanto assiste a um ensaio de teatro terapêutico mas também a surtos de ira (padecia realmente de uma paranoia relativamente a um medo de ser envenenada através da alimentação) ou de melancolia.
De facto, não deixa de ser estranho o comportamento do irmão (Paul Claudel) que insiste no seu internamento, quando a própria equipa médica era de opinião que Camille poderia regressar ao trabalho e ter uma vida independente.
Inveja do talento da irmã? Uma forma de punição? Ou seria ele não mais que um cristão fanático agrilhoado por aquilo que o Homem tantas vezes e tão hipocritamente apregoa em nome de Deus?
Quem seria realmente "louco"? Paul ou Camille?
O filme é magnífico! Não só por mais uma interpretação avassaladora de Binoche mas também pela plenitude e densidade emocional do silêncio que impera nas cenas. Algumas a fazerem lembrar o barroco do pintor holandês Vermeer!
Apesar de gostar de diálogos inteligentes e corrosivos como os de "O Deus da Carnificina" de Roman Polanski ou "O Eterno Marido" de Dostoiévski, não posso deixar de realçar a intensidade dos monólogos desta pequena obra-prima de Dumont!
E neste ponto recordo Henry Miller quando escreveu: "Gosto ainda mais do monólogo do que do dueto, quando é bom. É como observar um homem a escrever um livro expressamente para nós: ele escreve-o, lê-o alto, representa-o, revê-o, saboreia-o, deleita-se com ele, deleita-se com o nosso deleite e depois rasga-o e lança-o ao vento. É um desempenho sublime, porque enquanto o faz nós somos Deus para ele - a não ser que sejamos uns idiotas insensíveis e impacientes. Mas neste caso o tipo de monólogo a que me refiro nunca acontece."
Vejam aqui o trailer: