" ... nenhum outro dos seus textos será tão cataclísmico, tão orgástico e solar."
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
"Em face de uma humanidade de símio cobarde e cão molhado, a pintura de Van Gogh terá sido a de um tempo em que não houve alma, espírito, consciência, pensamento, só elementos primeiros sucessivamente acorrentados e desacorrentados.
Paisagens de convulsões fortes, traumatismos furiosos, como de um corpo que a febre atormenta para levar à saúde exacta."
Antonin Artaud em "Van Gogh, O Suicidado da Sociedade"
terça-feira, 26 de novembro de 2013
"Um louco, Van Gogh?
Quem algum dia soube olhar um rosto humano olhe o retrato de Van Gogh por ele próprio, estou a pensar naquele com chapéu de feltro.
Pintado por Van Gogh extralúcido, essa face de sanguinário ruivo que nos inspeciona e espia, que nos perscruta também com olhar torvo.
Não conheço um só psiquiatra capaz de perscrutar um rosto de homem com tão esmagadora força, e como que a trincho dissecar-lhe a irrefragável psicologia.
O olhar de Van Gogh é de um grande génio mas, pela forma como o vejo dissecar-me do fundo da tela onde surgiu, já não é o génio de um pintor o que sinto agora viver nele, mas de um certo filósofo que nunca, na vida, encontrei.
Não, Sócrates não tinha este olhar, antes dele só o infeliz Nietzsche talvez tivesse este olhar de nos despir a alma, libertar o corpo da alma, pôr a nu o corpo do homem fora dos subterfúgios do espírito.
O olhar de Van Gogh está pendurado, aparafusado, está envidraçado atrás das pálpebras curtas, das sobrancelhas magras e sem ruga nenhuma.
É um olhar que fura a direito, trespassa neste rosto feito a podão como uma árvore bem talhada.
Mas Van Gogh captou o instante em que a íris vai despejar-se no vazio, em que esse olhar, que sai contra nós como a bomba de um meteoro, ganha a cor átona do vazio e do inerte que o preenche."
Antonin Artaud em "Van Gogh, O Suicidado da Sociedade"
Cinemas King (sessão da meia-noite)
"Deixa passar oito minutos,
entra já às escuras, segue
o foco da lâmpada na
escuridão. Observa,
se puderes, o travelling
a reflectir-se, trémulo,
em rostos desconhecidos.
Guarda o bilhete rectangular
no bolso do casaco e senta-te
na primeira fila, para que a
vista arda. Depois respira
fundo. Sabes como funciona:
a verdade (e a mentira) em
24 imagens por segundo."
José Mário Silva
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
"Urban Tree" - Adele & Zalem
Simplesmente brutal o último vídeo de Adele & Zalem!
Este duo resulta tão bem, mas tão bem :)
Gosto particularmente de 2:18 a 3:10 e de 4:56 em diante! :))
domingo, 24 de novembro de 2013
192
24.11.2012 (Domingo) ... Body Pump (50').
23.11.2013 (Sábado) ... Indoor Cycling (45': média de 172 bpms com picos de 192 e 477 kcals gastas).
22.11.2013 (Sexta-feira) ... Active Ball (30') + Correcção Postural (50').
20.11.2013 (Quarta-feira) ... 60' de corrida (média de 158 bpms com picos de 182 e 584 kcals gastas) + Body Pump (30').
Semana de treinos muito, muito calma! Inflamação do tendão de aquiles assim obrigou! :((
sábado, 23 de novembro de 2013
Prólogo
Prologue consiste numa colecção de chás inspirada em clássicos da literatura!
Cada caixa contém folhas com aromas/sabores que supostamente "caracterizam" as obras em questão.
Além disso, o seu design inclui motivos das narrativas bem como elementos integrantes da experiência de leitura!
Adorei este conceito! :)
Só
"certa tarde, Jorge tentou fugir do bairro do amor.
poetas, bêbados, pessoas tristes e bucólicas, portadores
de solidão ao pescoço, apaixonados irresolutos, moradores da
parte de trás da vida, seres rastejantes por dentro, portadores
de olhares sem brilho, frustrados, mas também sonhadores,
cuspidores de fogo, colecionadores de selos usados e nuvens por usar,
adultos-crianças, crianças com colchões voadores, fumadores crónicos,
apreciadores de bagaço, adiadores de amor, lésbicas suicidas, e velhos
de olhar treinado em rever passados, todos o impediram de
caminhar para o lado errado da noite.
a multidão tranquilizou o homem-poeta.
Jorge palma tirou a mão do queixo, olhou para a multidão
confessando uma bebedeira à moda antiga. o piano que
lhe desculpasse os dedos.
foi um momento ardente, propício à poesia, à música. ele
inventava passos novos, suava os dedos, golpeava a lógica.
ele regressava - sem nunca ter saído da terra dos sonhos.
cambaleava os pés em trejeitos de cuidado, usando os
olhos de catarina pra iluminar um atalho musical."
Ondjaki em "Materiais para Confecção de um Espanador de Tristezas"
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
"Quando eu estava inteiro, todas as coisas me pareciam naturais e confusas, estúpidas como o ar; julgava ver tudo e afinal distinguia apenas a superfície. Se alguma vez tu vieres a ficar reduzido a metade de ti mesmo, e faço votos para que assim seja, meu rapaz, compreenderás então muitas coisas para além da vulgar inteligência dos cérebros inteiros. Terás então perdido metade do mundo e de ti mesmo, mas a metade que restará será mil vezes mais profunda e preciosa. E então também tu desejarás que tudo seja reduzido a metade e talhado à tua imagem, porque a beleza e a sapiência são apanágio apenas de tudo o que é reduzido a pedaços."
Italo Calvino em "O Visconde Cortado ao Meio"
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