"Patan ou Bhaktapur, nem sempre nos mostra as cidades verdadeiras daquele vale - mas tem a ver com a nossa mitologia. A mesma que leva o personagem de O Fio da Navalha, de Somerset Maugham, a percorrer os caminhos da neve e das montanhas para se reencontrar consigo mesmo, descobrindo noutro lugar (aí, no Oriente) aquilo que perdeu entre nós.
Somos distraídos, os ocidentais, os europeus, os que vivem longe de Katmandu, mesmo se não precisamos de ir a Katmandu para descobrir o que se encontra em Katmandu, como concluíram os que fizeram essa peregrinação. Katmandu, com a sua altitude, a sua cor, além dos seus sons e, sobretudo, da sua aparente inacessibilidade, é uma metáfora perfeita para o espírito da viagem.
Somos distraídos, os ocidentais, os europeus, os que vivem longe de Katmandu, mesmo se não precisamos de ir a Katmandu para descobrir o que se encontra em Katmandu, como concluíram os que fizeram essa peregrinação. Katmandu, com a sua altitude, a sua cor, além dos seus sons e, sobretudo, da sua aparente inacessibilidade, é uma metáfora perfeita para o espírito da viagem.
Todas as viagens podiam ser encaradas como uma visita a Katmandu, uma reaprendizagem de todas as culturas e a demonstração da nossa disponibilidade para conhecer aquilo que é o nosso contrário, o que nos é mais diferente e mais provocatório. Hoje, não nos basta que o mundo seja conhecido. Precisamos de experimentá-lo, de encontrar as vozes que vêm do fundo do deserto e do interior das montanhas, do labirinto das cidades e das suas casas.
Deve existir, algures entre os restos da neve dos altíssimos trilhos das montanhas mais altas da Terra, um mistério guardado para as gerações que hão-de vir, ou que hão-de nascer - esse segredo é o da resistência do Tibete. Antigamente, falava-se do «povo das alturas», habituado à contemplação e ao silêncio, a admirar a beleza intacta das ravinas e das estradas de pó que confinam com os lagos azul-turquesa ou que correm ao longo dos rios que nascem no Tibete (entre eles o Yang-Tsé, o Amarelo, o Brahmaputra ou o Ganges, que percorrem os caminhos da liberdade e se expandem para lá das suas fronteiras naturais).
Montanhas sagradas, rios sagrados, pássaros que desenham riscos brancos no céu, cores dos vestidos sacudidos pelo vento, dos animais que resistem às intempéries, às estações frias do tempo.
Deve existir um segredo que explique a nossa necessidade de paz, ou de contemplação, ou de isolamento, ou de serenidade, como uma música soprada do coração da terra e das coisas elementares. Deve existir um segredo, um antigo mistério que explique a capacidade de sobrevivência do Tibete (e do seu exílio) e o facto de o sagrado se estender sobre o mapa da terra e estar aqui mais ao alcance da mão do que em qualquer outro lugar."
Francisco José Viegas e Manuel Gomes da Costa em "Tão Longe Quanto os Homens"
Montanhas sagradas, rios sagrados, pássaros que desenham riscos brancos no céu, cores dos vestidos sacudidos pelo vento, dos animais que resistem às intempéries, às estações frias do tempo.
Deve existir um segredo que explique a nossa necessidade de paz, ou de contemplação, ou de isolamento, ou de serenidade, como uma música soprada do coração da terra e das coisas elementares. Deve existir um segredo, um antigo mistério que explique a capacidade de sobrevivência do Tibete (e do seu exílio) e o facto de o sagrado se estender sobre o mapa da terra e estar aqui mais ao alcance da mão do que em qualquer outro lugar."
Francisco José Viegas e Manuel Gomes da Costa em "Tão Longe Quanto os Homens"
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