quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 

"De todos os ofícios que um homem sensível e depressivo poderia ter abraçado, poucos são mais arriscados do que o de escritor sério. (...) Escrever implica revelar. «Não fui eu, mas sim o poeta que descobriu o inconsciente», disse Freud, e um psicanalista de um psicanalista talvez tivesse reconhecido aqui o ranger de dentes da inveja. Escrever é dar rédea solta à mente, deixando-a gritar a plenos pulmões e partir a loiça, depois mergulhar nas profundezas deste pandemónio, na esperança de voltar à tona com algo de regrado e belo.

(...)
Alguma vez sentiste vontade de te libertares das amarras da vida, de te refugiares numa espécie de contemplação solitária, para meditares um certo tempo acerca de todas as coisas? Todas as coisas. Tu. Ela. Tudo. Eles. Pois bem, é assim que um poeta se sente, porque um poeta não é diferente das outras pessoas. O que torna um poeta diferente é que ele arranja tempo para anotar todos os seus pensamentos. Numa forma bela."


"I'm Your Man - A Vida de Leonard Cohen"
Edições Tinta da China
1ª edição, Outubro de 2019
Páginas 96 e 261

Empatia significa «sentir com»

"A investigação cerebral fala-nos de três tipos de empatia. A empatia cognitiva permite-nos compreender como a outra pessoa pensa; vemos a sua perspectiva. Na empatia emocional, sentimos aquilo que o outro está a sentir. E a terceira, a preocupação empática ou cuidado, reside no âmago da compaixão.
A palavra empathy entrou na língua inglesa apenas nos primeiros anos do século XX, como tradução da palavra alemã Einfühlung, que poderá ser traduzida por «sentir com». A empatia puramente cognitiva não inclui tais sentimentos de simpatia, ao passo que o sinal definidor da empatia emocional é sentirmos no nosso corpo aquilo que a pessoa em sofrimento está a sentir.
Mas, quando aquilo que estamos a sentir nos perturba, muitas vezes a nossa reacção seguinte é desligarmo-nos, o que nos ajuda a sentirmo-nos melhor, mas bloqueia a acção compassiva. No laboratório, uma das formas pelas quais este instinto de recuo surge é nas pessoas que desviam o olhar das fotografias que retratam sofrimento intenso - como um homem tão dolorosamente queimado que a sua pele se despegou. De modo semelhante, os sem-abrigo queixam-se de que se tornam invisíveis - aqueles que passam na rua ignoram-nos, o que é uma outra forma de desviar o olhar do sofrimento.
Uma vez que a compaixão começa pela aceitação do que está a acontecer ao outro sem nos desviarmos - um primeiro passo essencial no sentido de realizar uma acção que auxilie -, poderão as meditações que cultivam a compaixão contribuir para isso?"


"Traços Alterados" de Daniel Goleman e Richard J. Davidson
Temas e Debates
1ª edição, Fevereiro de 2018
Página 126