terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Fotografando Palavras (VI)


Sem apego deixarei de sentir?
Without attachment, will I stop feeling?



Texto: Maria João Faísca
Fotografia: Paula Abreu Silva

Do projecto de Paulo Kellerman, fotografar palavras, aqui 😊

"O Azul Imperfeito - Livro de Horas V" de Maria Gabriela Llansol (III)

 
" ... um sussurro de folhas candentes atravessava a terra, com seu ar luminoso."

"Sinto-me como uma folha sem espessura, onde o verso e o reverso se encontraram inevitavelmente confundidos."

" ... eu minto quando escrevo na face da verdade."

"Para ela, ele era um animal, um vento, um astro. Reconhecia que ele tinha pântanos dentro de si, e sentiria pena se os perdesse."

"Escrever impele-me para uma vontade de estar só infindável"

"Não é uma imagem do fogo que colhi para o pensamento; é antes o pensamento que se serviu do fogo."

"... verdecer e ser natural ..."



Maria Gabriela Llansol em "O Azul Imperfeito - Livro de Horas V"
Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2015
Páginas 257, 289, 290, 295 e 324

"O Azul Imperfeito - Livro de Horas V" de Maria Gabriela Llansol (II)

 "Olhava de preferência para baixo, e via-se que seguia o caminho na ponta dos pés, embora mais tarde o projectasse no horizonte do seu ofício, que era a meditação pela poesia."

"Pássaro migratório, onde está o último ramo em que se via ainda terra?"

" ... os caminhos estavam dispostos para que alguém se perdesse neles."

" ... descrição de paisagens que são o reverso das minhas paisagens -------"

"Essas sombras oscilavam nos seus lugares mutáveis ..."

"A profunda nostalgia faz parte do trabalho daquele que toma nota dos factos; daquele que vive no campo; daquele que vive no ermo; daquele que se abandona para encontrar o abandono."

" ... o tempo é uma tortura quando o fazemos funcionar por relógios e por medida."



Maria Gabriela Llansol em "O Azul Imperfeito - Livro de Horas V"
Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2015
Páginas 86, 90, 99, 142, 215, 227 e 230

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A Rosa Branca

 "É isto a terra? Então
eu não pertenço aqui.

Quem és tu na janela iluminada
agora escurecida pelo brilho trémulo das folhas 
do viburno?
Será que sobrevives onde eu não passarei sequer
do meu primeiro Verão?

Os ramos delgados da árvore toda a noite
se agitam, sussurrando à janela luminosa.
Explica-me a minha vida, tu que não me dás nenhum sinal,

embora eu te invoque na noite:
não sou como tu, por voz tenho só
o meu corpo; não posso
dissolver-me no silêncio -

E na manhã fria
sobre a superfície escura da terra
vagueiam ecos da minha voz,
a alvura logo absorvida pelo escuro,

como se me desses finalmente um sinal
para me provar que tu também não podias aqui sobreviver,

ou para me mostrar que não eras a luz que eu invocava,
mas a negrura por detrás dela."



Louise Glück em "A Íris Selvagem"
Relógio D´Água Editores, Dezembro de 2020
Página 99

Trillium

 
"Quando acordei estava numa floresta. Parecia natural
o escuro, o céu através dos pinheiros
carregado de luzes.

Eu não sabia nada: nada podia fazer, só ver.
E, enquanto via, todas as luzes do firmamento
se desvaneceram numa única coisa, um fogo
ardendo por entre os abetos frios.
Foi impossível depois
olhar o firmamento e não ser destruída.

Haverá almas que precisam
da presença da morte, como eu de protecção?
Penso que, se continuar a falar,
conseguirei responder a essa pergunta. Verei
tudo que eles vêem: uma escada
subindo por entre os abetos, algo
que os convide a trocar de vida -

Vede o que entendo já.
Acordei ignorante, numa floresta:
há instantes não sabia sequer a minha voz.
Se alguma voz me fosse dada,
ela seria feita de dor, frases
como gritos amarrados entre si.
Não sabia sequer o que era a tristeza
até a palavra surgir, até sentir
a chuva brotando de mim."



Louise Glück em "A Íris Selvagem"
Relógio D´Água Editores, Dezembro de 2020
Página 17

Matinas

 
"O sol brilha; junto da caixa de correio, folhas
da bétula cindida, dobradas, plissadas como barbatanas.
Debaixo delas, estames ocos dos narcisos brancos, Triandros,
Trompetes; folhas
negras da violeta selvagem. Noah diz
que quem é depressivo odeia a Primavera, o desequilíbrio
entre o mundo interior e o de fora. Eu tenho
outra ideia - depressiva, sim, mas unida também
à árvore viva, apaixonadamente, o meu corpo
enrolado no seu tronco, à chuva da tarde, quase em paz,
quase capaz de sentir
a seiva borbulhante, subindo por mim. Diz Noah que esse é
um erro dos depressivos, sentirem-se só
com uma árvore. Ao passo que o coração feliz
vagueia pelo jardim como folha caída, um fragmento
da parte, não do todo."



Louise Glück em "A Íris Selvagem"
Relógio D´Água Editores, Dezembro de 2020
Página 13