da bétula cindida, dobradas, plissadas como barbatanas.
Debaixo delas, estames ocos dos narcisos brancos, Triandros,
Trompetes; folhas
negras da violeta selvagem. Noah diz
que quem é depressivo odeia a Primavera, o desequilíbrio
entre o mundo interior e o de fora. Eu tenho
outra ideia - depressiva, sim, mas unida também
à árvore viva, apaixonadamente, o meu corpo
enrolado no seu tronco, à chuva da tarde, quase em paz,
quase capaz de sentir
a seiva borbulhante, subindo por mim. Diz Noah que esse é
um erro dos depressivos, sentirem-se só
com uma árvore. Ao passo que o coração feliz
vagueia pelo jardim como folha caída, um fragmento
da parte, não do todo."
Louise Glück em "A Íris Selvagem"
Relógio D´Água Editores, Dezembro de 2020
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