- Nick Cave: Acho que ser-se verdadeiramente vulnerável é existir paredes-meias com o colapso ou a obliteração. Nesse lugar, podemo-nos sentir extraordinariamente vivos e recetivos a toda a espécie de coisas, tanto a nível criativo como espiritual. De uma maneira perversa, pode ser uma posição de vantagem, e não de desvantagem, como poderíamos pensar. É um lugar com muitos matizes que nos parece ao mesmo tempo perigoso e cheio de potencial. É o lugar onde se podem dar as grandes mudanças. Quanto mais tempo aí passares, menos te irá preocupar a forma como irás ser olhado ou julgado, e é nesse ponto que, em última análise, reside a liberdade.
" - Nick Cave: Há um grande défice na linguagem em torno do luto. Não é algo em que sejamos proficientes enquanto sociedade, isto porque se trata de algo demasiado difícil de discutir e, mais importante que tudo, demasiado difícil de escutar. São tantas as pessoas que fazem o seu luto e se limitam a ficar em silêncio, fechadas nos seus pensamentos secretos, fechadas nas suas próprias mentes, sendo os próprios mortos a sua única forma de terem companhia."
" - Nick Cave: Não começo com cadernos cheios de ideias, bocados de diálogos, versos fantásticos ou sequer títulos interessantes - resumindo, qualquer coisa coligida durante o tempo que antecede essa data. Não é assim que tiro as minhas notas. Não no que toca a canções, pelo menos. A escrita das letras é um processo que começa a partir do zero e é feito num período pré-definido. Começo com um caderno de apontamentos novo, em branco, o pensamento livre de ideias e uma considerável dose de ansiedade."
"Fé, Esperança e Carnificina" de Nick Cave e Séan O'Hagan
Relógio D'Água Editores, Novembro de 2022
Páginas 54, 57 e 126