"Quero escrever esta noite a folhagem da língua
O vento arqueia as vértebras e arqueia a sombra
Aproximam-se barcos entre latidos de cães
Espaço nocturno de ninguém Sombras escritas
pelas pedras sobre o ventre oval da terra
Com o movimento das palavras na folhagem
guiarei a ágil impaciência do fogo
Ó noite nublada noite de musgo e quartzo
que o silêncio ocultas nas tuas gargantas negras!
Eu escreverei na sombra o que se dissemina
nos teus ramos nos teus pássaros nos martelos
acesos Os vestígios e frémitos na casa
hão-de acordar novos gestos nas salas
e nos tecidos tranquilos Palavras mas porquê?
Porque levantam os círculos da confiança
porque prendem mas também libertam
e são rostos submersos que germinam na penumbra."
António Ramos Rosa em "Obra Poética II"
Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2020
Páginas 12 e 13
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