quarta-feira, 31 de julho de 2024

"Geórgicas" de Vergílio (IV)

 
"A Primavera é boa para as folhas dos bosques e as árvores.
Na Primavera, as terras intumescem e reclamam as fecundas sementes. Então, o Éter, pai omnipotente, em forma de chuvas fecundadoras desce para o interior do regaço da sua fértil esposa, e, grande, unido a este grande corpo alimenta todas as plantas jovens. Nessa altura, nos matagais impenetráveis ressoam as aves canoras e em dias certos os rebanhos reclamam os dons de Vénus. 
O campo alimentador dá à luz e com as tépidas brisas do Zéfiro as terras aradas relaxam o seio. Em tudo abunda a suave humidade e os pastos ousam em segurança confiar-se a novos sóis. 
Nem a parra receia os Austros que estão para chegar, nem a chuva, que é trazida do céu pelos grandes Aquilões, antes faz brotar os botões e expande as suas folhagens.
Eu acredito que no início da origem do mundo não brilhou um tipo diferente de dias, nem tiveram um movimento diferente: aquilo era a Primavera. A grande Primavera conduzia o mundo e os Euros retinham os seus sopros invernais quando as primeiras manadas beberam a luz e a raça terrena dos homens levantou a cabeça dos duros campos e os animais foram lançados nos bosques e os astros no céu. 
Seres tão delicados não podiam aguentar este esforço se sossego tão grande não se espraiasse entre o frio e o calor e a amabilidade do céu não recebesse as terras."



Vergílio em "Geórgicas"
Livros Cotovia, 2019
Página 61

"Geórgicas" de Vergílio (III)

 
"A árvore mais alta planta-se profundamente na terra, o carvalho primeiro de todas, que se estende tanto com a copa para as brisas do éter quanto com a raiz para o Tártaro. Deste modo, nem o Inverno, a força dos ventos ou as chuvas o arrancam: permanece inamovível e supera muitas gerações, muitas idades dos homens, vendo-as desenrolar durante a sua vida. Então, estendendo bem longe os fortes ramos e os braços em todas as direcções, ele próprio, no meio, sustenta uma enorme sombra."



Vergílio em "Geórgicas"
Livros Cotovia, 2019
Páginas 59 e 60

"Geórgicas" de Vergílio (II)

 "Na verdade, nem todas as terras podem produzir tudo.
Os salgueiros crescem à beira-rio, os amieiros junto a pântanos espessos, os estéreis freixos-silvestres nos montes rochosos. Os litorais são férteis em campos de murta. Enfim, Baco ama colinas abertas, os teixos o Aquilão e as regiões frias."


Vergílio em "Geórgicas"
Livros Cotovia, 2019
Página 53

"Geórgicas" de Vergílio (I)

 
"A natureza tem, antes de mais, várias formas de criar árvores. Umas, sem coacção alguma dos homens, desenvolvem-se de livre vontade e ocupam até bem longe os campos e os rios sinuosos, tal como o suave vime e as maleáveis giestas, o choupo e os salgueiros encanecidos com verde folhagem. Outras surgem, porém, da semente caída, como os altos castanheiros e a maior árvore dos bosques, que cresce para Júpiter, o carvalho, e os robles tidos como oráculos pelos Gregos.
Noutras, um densíssimo matagal de rebentos sai da base de árvores como as cerejeiras e os ulmeiros. Também o loureiro do Parnaso se ergue ainda jovenzinho sob a enorme sombra da mãe. 
Estes métodos deu a natureza em primeiro lugar. Graças a eles, todo o tipo de árvores verdeja, pequenas, grandes e solenes."



Vergílio em "Geórgicas"
Livros Cotovia, 2019
Páginas 49 e 50