Na Primavera, as terras intumescem e reclamam as fecundas sementes. Então, o Éter, pai omnipotente, em forma de chuvas fecundadoras desce para o interior do regaço da sua fértil esposa, e, grande, unido a este grande corpo alimenta todas as plantas jovens. Nessa altura, nos matagais impenetráveis ressoam as aves canoras e em dias certos os rebanhos reclamam os dons de Vénus.
O campo alimentador dá à luz e com as tépidas brisas do Zéfiro as terras aradas relaxam o seio. Em tudo abunda a suave humidade e os pastos ousam em segurança confiar-se a novos sóis.
Nem a parra receia os Austros que estão para chegar, nem a chuva, que é trazida do céu pelos grandes Aquilões, antes faz brotar os botões e expande as suas folhagens.
Eu acredito que no início da origem do mundo não brilhou um tipo diferente de dias, nem tiveram um movimento diferente: aquilo era a Primavera. A grande Primavera conduzia o mundo e os Euros retinham os seus sopros invernais quando as primeiras manadas beberam a luz e a raça terrena dos homens levantou a cabeça dos duros campos e os animais foram lançados nos bosques e os astros no céu.
Seres tão delicados não podiam aguentar este esforço se sossego tão grande não se espraiasse entre o frio e o calor e a amabilidade do céu não recebesse as terras."
Vergílio em "Geórgicas"
Livros Cotovia, 2019
Página 61
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