"Quando visitava uma cidade, andar a visitar igrejas, museus e galerias apinhados de turistas não era a minha ideia de diversão, mas sim deambular pelos becos calmos cheirando os mercados. Qualquer mercado, de comida, de pulgas, livros antigos ou apenas porcarias, deixa-me feliz durante horas, até mesmo dias. Nunca venho embora desapontada. Há sempre sítios fascinantes de acção e interesse com a verdadeira cor e espírito locais.
Os mercados de comida são sempre o ponto alto, o cheiro, os produtos, as cores, a variedade, e os mercados de Budapeste não me desapontaram. Eram pequenos, em desordem nos subúrbios onde pequenas mulheres de idade com as faces enrugadas pelo sol, vestidas com os trajes tradicionais e os lenços pretos, saias e corpetes apertados de botões com ombros franzidos e em balão, estavam de pé, rígidas, ao lado das magras ofertas de ervas, cebolas e urtigas que elas tinham colhido das hortas da aldeia nessa manhã. E depois havia os mercados grandes, em grande azáfama e bem abastecidos do centro.
No lado Pest da ponte de Liberdade, encontrei um edifício enorme, negro, gótico, dentro do qual estava o Vásárcsnok, o magnífico mercado central. Quando entrei naquele oásis vinda do caos poluído das ruas de Budapeste, era como se o campo tivesse invadido a cidade. Havia uma panóplia de paprikas, quase todos os pratos húngaros usam este pequeno pimento e existe nas mais infinitas variedades, desde suave a doce, picante de queimar a língua e mais picantes, em cores que vão desde o vermelho-ardente até ao carmim, do verde-escuro ao amarelo insípido e manchado. As bancas estavam enfeitadas com coroas de vagens secas vermelho-acastanhadas que pendiam com molhos de alhos-frescos, rechonchudos e potentes. Por debaixo deles, as mesas assentes sobre suportes gemiam sob o peso de frutos secos, nozes, sementes, especiarias, mel e compotas. Noutras bancadas empilhavam-se até bem alto abóboras, pêssegos, marmelos, pêras, rabanetes gigantes e cenouras saborosas.
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Até havia uma bancada de identificação de cogumelos gerida por um professor seco e duro com o cabelo obrigatoriamente revolto e o casaco branco-clínico. Ele conseguia distinguir entre os que se podiam comer e os venenosos para que as pessoas que tivessem andado à procura de fungos nas florestas pudessem ter a avaliação de um perito em vez de, inadvertidamente, acabarem mortas."
Josie Dew em "Pelo Mundo em Bicicleta"