"És tu que teimas em saber quem sou
e queres na palavra
encontrar a Alma
que se esconde atrás de cada pensamento.
És tu que julgas conhecer
o rictus, o encolher de ombros
o brilho do olhar, que te devolvo
quando vinda de tão longe
pressinto que me estás a observar.
És tu que queres dizer-me
o que sou e não sou
convencer-me por estares convencido já.
Desiste.
Eu própria não conheço a minha Alma
ansiosa sempre
alada
teimosa
descontente
nunca conformada.
Eu própria ando à procura
de me conhecer
para poder ter norte
e cada vez que agarro a Alma
e a seguro forte
é com desdém
que ela me diz
que a não conheço bem.
Tão mal conheço esta minha Alma.
Tão pouco sei o que pretende e quer
permanentemente a tentar alcança-la
sinto conscientemente que seja o que fizer
me fará falta desesperadamente
poder espreita-la no espelho em que miro.
És tu que julgas poder prever
as minhas emoções
por julgar que me conheces bem.
Desiste.
Eu própria tenho andado a procurar-me
fartei-me tanto e tanto
cansei-me muito mais
e nada.
Só conheço o que posso ver no espelho
em que me miro.
A Alma, esse desafio.
Um dia é uma
outro dia é outra
convencida e confusa
audaz e incapaz
afectiva e livre.
Desiste
nunca serás capaz
de ter o prazer de a conhecer.
Eu não desisto
e quem sabe se num imprevisto
um dia a encontro, enfim, ao espelho
a fixar-me os olhos
e a rir-se para mim."
Isabel Sá Lopes
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