"O nevoeiro é a cinza que do alto
cai sobre a terra a atenuar-lhe a cor.
Pó-de-arroz da cidade, que ao sol-pôr,
lembra poeira de oiro no asfalto.
O nevoeiro cai sem sobressalto
como lágrima tímida, incolor,
e empresta à voz da rua outro sabor,
dá-lhe cadências graves de contralto.
Ao pôr do sol o nevoeiro é espuma,
é volúpia, mistério, lenda, bruma
tão leve como franja de retrós ...
Nos candeeiros murcha a claridade ...
A alma da neblina é uma saudade
que vive, oculta, em cada um de nós."
Fernanda de Castro em "Cidade em Flor"
Fernanda de Castro em "Cidade em Flor"
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