"O seu pai era soldador, e achava que qualquer pessoa capaz de passar o dia inteiro a olhar para simbolozinhos numa página era porque estava a reprimir outros impulsos. Mas para Gordon ler era o seu impulso. Tornava o mundo maior. No liceu ele apaixonou-se por Dostoievski, uma literatura que vinha ao encontro das suas melancólicas dúvidas. Dostoievski não acreditava em nada a não ser no mundo untuoso e terra a terra onde os seres humanos vagueavam, lutavam, corrompiam e matavam. Mas Dostoievski era cristão, e as pessoas que lutavam e vagueavam nos seus romances haviam perdido o seu caminho, ao passo que Deus não. Dostoievski era algo de vasto - de dimensão universal - , um universo que possuía uma ordem, mas não uma ordem fixa e artificial como a dos gregos. Era um difuso reino de caóticas provações, e Gordon sabia que quando o lia penetrava no território da verdade."
Rachel Kushner em "O Quarto de Marte"
Rachel Kushner em "O Quarto de Marte"
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