quarta-feira, 22 de maio de 2019
Máquina de Escrever @ Museu Aljube Resistência e Liberdade
A escrita de documentos clandestinos obrigava a especiais cuidados, que impedissem, designadamente, a localização de quem procedia a essa tarefa. Para o efeito, desenvolveram-se muitos estratagemas que visavam reforçar a segurança desses equipamentos e de quem os utilizava.
A máquina aqui reconstituída permitia escrever diminuindo substancialmente o som das teclas, dificultando desse modo a sua localização.
"No amor, ao mesmo tempo que nos revelamos a nós mesmos, é um outro que nos é dado com a sua história, as suas possibilidades, o seu universo. Isso é-nos sempre oferecido envolto em mistério, o outro é-nos sempre simultaneamente próximo e estranho, senão já não seria outro. Observamos o nosso amante, sentimo-lo como uma evidência, quase como uma extensão de nós mesmos, e no entanto perguntamo-nos o que pensará ele, o que sentirá, quem é ele, no fundo. Mas, seja o que for esta presença, que não diz tudo a respeito de si própria e se mantém como algo de estranho, há nisso uma dádiva. «Nesse destino um outro ser humano vos é confiado.» E, se a presença do outro irrompe subitamente na nossa vida, «não está ao nosso alcance nem dentro das nossas capacidades reter-lhe o fluxo».
Aude Lancelin e Marie Lemonnier em "Os Filósofos e o Amor"
terça-feira, 14 de maio de 2019
"Nunca é fácil uma pessoa pôr-se na situação que não existe, não percebo como é que tanta gente passa a vida a fingir, porque é de todo impossível ter todos os elementos em conta, até o último e irreal pormenor, quando na verdade nenhum existe e todos terão de ser fabricados."
Javier Marías em "Os enamoramentos"
quarta-feira, 8 de maio de 2019
Ermo
"Não tem sossego minha incerta escrita.
Há um rumor antigo que me prende.
Há uma voz, um eco que me cerca.
Eco, voz, que na trama destes versos,
se alheia, esvai, confunde, se desvia
e não deixa florir palavra alguma.
Que se alguma palavra me procura
surge tão vaga, tão descolorida,
que, se tinha sentido, logo o perde."
José Carlos Breia em "Lugar Nenhum"
quarta-feira, 1 de maio de 2019
"seria outra coisa, a terra de ninguém entre mim e o mundo. entre um e o outro, entre aquilo que era e o que poderia ter sido, abria-se um vazio que tinha o tamanho das coisas conhecidas. terras, bichos, nomes ou gente. cada um deles, sobrepostos e confundidos, revia-se no outro como o reflexo invertido da sua própria imagem. a simples constatação da existência das coisas assumia a inevitabilidade de um facto consumado. devolvida a si mesma, cada coisa tomava para si o espaço que talvez fosse próprio da outra, ou, se não próprio, adequado, reversível, passível de ser substituído qualquer que fosse o nome que eu lhe atribuísse. somado a isso, aquilo que pudesse vir a acontecer parecia de tal modo destituído de espessura que só por um momento de retroacção do efeito sobre a causa me poderia atingir."
H.G. Cancela em "De Re Rustica"
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