vejo-a daqui,
os ramos oscilando ao ritmo
dos meus passos
Como cadeira antiga
que não precisa nome, assim
é ela: minha,
e a ela aporto
como navio, agora
Convocaria exército de abelhas,
batalhão de formigas do fundo
do jardim, se sentisse
outro corpo?
Imagino-a cantando, dizendo
que está livre, se preparou
para me receber
Acaba de lançar
miríade de folhas sobre mim,
oferta descomposta pela cor,
e o hino atravessado a negro
que lhe faço
ficou mais rico na poeira de oiro -
tal como a minha camisola branca
que seriamente exibe
as suas manchas, o seu cheiro
de morte anunciada:
esse cansaço bom depois do amor -
ou êxtase de outono a ser"
"Mundo" de Ana Luísa Amaral
Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2021
Páginas 82 e 83