por entre os pássaros
que lhe habitam as árvores e cantam
em trinado desacerto,
vive uma pega
O seu nome não é um nome belo
como andorinha ou rouxinol,
que lembram odes e mornas tradições,
ou como arara, quetzal ou beija-flor,
nomes felizes com as cores inteiras
que o olho humano entende
- e ainda outras
que as entendem eles
Mas ela, elegante no corpo todo negro, a cauda longa,
só laivo a branco leve na asa e pelo peito,
parece que vestiu alta-costura
para voar pelos ramos de outono e
os telhados das casas
que estão perto
Dizem os entendidos
que reconhece ao espelho o seu reflexo,
algo que ao bicho humano
exige anos de vida
Nestes dias tão magros
em que os cavalos de apocalipse e espanto
cavalgam livres, trazendo novas pestes, guerras, fomes,
é um prazer de afago
alegria sem nome
vê-las todos os dias a voar
equilibrista bicolor,
dona do mundo"
"Mundo" de Ana Luísa Amaral
Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2021
Páginas 14 e 15
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