"O poeta
bebe a água do Tigre e do Eufrates,
passa a noite sem dormir e às vezes tem caspa.
e nos salões tem reservado o seu lugar
e os raposos lambem-lhe a mão antes de fugir espantados
pelo áspero som do seu verso.
De puas, de facas, é a pele do poeta.
Com o despertar da luz sangra a pele do poeta.
Às vezes, desasado, silencioso,
deserto dos pés à cabeça,
anoitece de bruços na sua cama.
A inveja do poeta é amarela,
o seu sonho é azul como um céu sem guardas.
Por vezes devora-se a si mesmo, corta-se aos pedaços, reparte-se,
olha-se ao espelho, cospe, chora
sobre o mosaico da infância.
O poeta envelhece, engorda, arrota,
e ocasionalmente o poeta morre.
A poesia, que é imortal, olha-o de cima,
cega de luz e alheia como uma estrela antiga."
Poema de Piedad Bonnett (1951)
Da Antologia "Um País Que Sonha - cem anos de poesia colombiana"
Poema de Piedad Bonnett (1951)
Da Antologia "Um País Que Sonha - cem anos de poesia colombiana"