terça-feira, 13 de agosto de 2019

"A grande ficção é premonitória. Entre a exaltação e a denúncia, os grandes ficcionistas são os que nos dão novas armas para interpretar as nossas próprias ansiedades e os que alargam os horizontes do humano.
(...)
Os grandes vultos, os "faróis" de que falava Baudelaire, os autores que foram alimentando, até ao século passado, o Cânone Ocidental, como lhe chamou Harold Bloom, parece terem desaparecido de vez: entre 1961, o ano em que Hemingway desistiu prematuramente de viver, e 1985, o ano em que as cinzas de Orson Welles foram depositadas no fundo do poço da quinta de Ordoñez, em Ronda, desapareceram Picasso e Stravinsky, Malraux e John Ford, Chaplin e Rossellini, Renoir e Hitchcock. E onde estão hoje os Mestres que nos inspiram, nos provocam e nos alertam? Desde os anos 80 que nenhum filme, nenhum romance, nenhuma obra plástica ou musical de projecção universal e prometida à perenidade - que são as marcas identificadoras do génio - emergiu nesta Europa que já não espera nada e que deixou de sonhar.
Porque será?"
 
 
António-Pedro Vasconcelos  em "O Futuro da Ficção"
Fundação Francisco Manuel dos Santos
Páginas 11,12

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