sexta-feira, 16 de julho de 2021

 
"Se eu tivesse pontaria e tu tivesses asas.
Se eu soubesse semear e tu fosses semente.
Se eu uma ilha e tu continente.
Se eu cautelosa e tu imprudente.
Se eu fosse chuva e tu fosses chão.
Se eu fosse a casa e tu o botão.
Se eu Josefina e tu Napoleão.
Se eu a modéstia e tu a vaidade.
Se eu fosse trânsito e tu a cidade.
Se eu fosse um pomar e tu respigador.
Se eu fosse água e tu fosses vedor.
Se eu um peixe e tu pescador.
Se eu um funeral e tu uma festa.
Se eu uma giesta e tu uma floresta.
Se eu o devedor e tu o fiador.
Se eu fosse um farol e tu faroleiro.
Se eu fosse a solidão e tu a saudade.
Se eu escuridão e tu claridade.
Se eu uma maçã e se tu Adão.
Se eu a decepção e tu o perdão.
Se eu fosse a fome e tu a vontade.
Se eu soubesse esperar e tu fosses pontual.
Se eu soubesse amar e tu fosses amável."




"Silêncio sálico" de Raquel Serejo Martins
Poética Edições, Julho de 2020
Página 20

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