LUÍSA FREIRE
Luz pela janela
onde a noite se consome
a brilhar o tempo.
Manhã de domingo -
o silêncio ajoelhado
ante a voz dos sinos.
De pé-ante-pé,
a noite desce plas coisas
em sombra-ante-sombra.
A manhã que acorda
espreguiça a luz recente
na terra que dorme.
À luz dos faróis,
a chuva sobre o asfalto:
salpicos de estrelas.
Na noite profunda
bate o silêncio estrelado.
Quantas badaladas?
Canto alentejano:
tisnados, hirtos, solenes,
os deuses da terra.
Fim de tarde e água:
nuvens a nadar de costas
na calma da ria.
Colher a imagem
e colocá-la entre folhas -
um livro de instantes!
Sabor esquecido:
gosto que traz a infância
na ponta da colher.
"Imagens Orientais / Imagens Acidentais" de Luísa Freire
Assírio & Alvim, Novembro de 2003
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