"Nunca atirei a pedra exacta para o lugar certo. E abri feridas em todas as direcções."
"Nunca cumpras todas as promessas. É um modo muito triste de morrer."
"Falar é uma morte muito violenta. Mas nos teus braços morrerei, se me escutares."
"Acordo de madrugada sem saber para onde vou. A lua entra-me nos vidros, no quarto, no sangue minguante."
"Mãe, sinto a clarividência a queimar-me, o fogo de ver como os cegos o miolo das coisas, a violência do mundo de dentro. Chama-me para fora. Só não quero morrer às escuras."
"Mãe, sinto as mãos a tremer. Ponho-as debaixo dos braços, coloco-as nos joelhos, sobre a cabeça. Não sei o que fazer. Toma-as. Esvazia-as por inteiro. Bato com elas no peito, bato com elas nas portas, bato-as uma na outra - e nunca afugento a solidão."
"Mãe: sinto o nevoeiro denso das manhãs de transumância. Abeiro-me das margens, das pontes, de todas as coisas que ligam uma nascente ao seu fim. Esmola, orvalho, pão. Tudo isso me dão. Eu só quero a luz."
"Sétimo Dia" de Daniel Faria
Assírio & Alvim
1ª Edição, Junho de 2021
Páginas 35, 56, 108, 126, 143, 144, 148 e 150
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