quarta-feira, 28 de março de 2018

"No solstício de Inverno (um dia estranho em que havia qualquer coisa no ar, uma proximidade, não sei) ele deu-me uma teia de apanhar sonhos. Era um objecto bonito, uma teia circular com uma abertura no centro, feita em fio muito resistente, e da qual pendiam plumas de pássaros, de um azul fortíssimo, artisticamente intercaladas com missangas.
Disse-me que a lenda se relacionava com os índios oneida, nos Estados Unidos. Na verdade, os índios em geral acreditavam nos sonhos, tudo o que era visto, sonhado ou captado nas visões era igualmente real.
Uma teia de sonhos numa casa, apanhava os que flutuavam no ar da noite. Os pesadelos ficavam presos nos fios como insectos e desfaziam-se de manhã com a luz do sol.
Mas os sonhos bons escapavam pela abertura no centro da teia e tornavam-se reais."

Ana Teresa Pereira em "O Rosto de Deus"

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