Simplicidade não é simplismo, não é facilidade,
é sombra cáustica, veneno que turva
o copo, prego que lacera e ofende a carne.
Aqueles que negam a simplicidade aconselham
o obscuro, celebram o complexo. Mas todo
o obscuro aspira a ser simples, o complexo
torna-se claro se sabemos clarificar a incógnita.
Pelo contrário, a simplicidade obscurece a noite,
adormece e sonha. Só Deus sabe
o que sonha a simplicidade. Se a observas a dormir
e sorri adivinhas cavalos selvagens sobre
pradarias azuis. Se faz caretas a esfinge
lança-se no vazio com os olhos vendados
e levanta voo quando está quase a cair.
A simplicidade empresta-lhe asas, envolve o
mundo com uma pergunta, importam-lhe
pouco as interpretações. A tempestade é
simples, o glaciar é simples, a primavera
é simples, até o amor é simples. Oxalá
este poema seja simples."
Eduardo Chirinos [Peru, 1960-2016]
em "O Universo Está Pintado À Mão - Uma Antologia Fanática" de Luís Filipe Parrado
Língua Morta, Junho de 2020
Página 63
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