e seu hálito estranho que amadurece as luas,
os livros de silêncio que abrem as estrelas,
as profecias escutadas no brilhar dos poços ...
Não ignores a noite, poeta,
e a forma carnal que a escuridão toma em cada sítio,
e o peso dos cheiros, rolando bem musculado,
nos rios vegetais que barram os caminhos,
o mundo das aves confusas que faz florir o espaço
e se vai aninhar entre as brisas coalhadas ...
Não ignores a noite, poeta,
e seus peixes de sono deslizando entre os ombros das pedras,
as cicatrizes de luz que o sol deixa nas árvores prisioneiras,
as dálias de sangue que os pastores tecem nas cabanas vazias ...
Não ignores a noite, poeta,
e as canções que a água reparte crucificada nos ramos do céu,
e os sonhos puros dos animais contentes de sémen e de terra!..."
"Na Curva Escura dos Cardos do Tempo" de Leonor de Almeida
Ponto de Fuga
1ª edição, Agosto de 2020
Página 40
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