dizia estas coisas:
se me quiseres, quer-me inteira. *
Eu não.
Ama-me em pedaços
que não me importa.
Descobre primeiro um pé com alvoroço.
Depois uma mão subtil dias e dias.
Dez anos de carícias
saboreando com a língua
a penugem da nuca
e meio século
de exploração equinocial
nas dunas do umbigo.
Quando vislumbrares do joelho
a sua imponente epifania
seremos velhos,
o temível império
terá caído
e um novo
estará afiando
as suas garras
no berço.
Terá passado a revolução
sem nos darmos conta.
Ama-me apenas um mamilo
perfeito enigma
onde por fim
se perde
a vida inteira."
* De um poema de Dulce María Loynaz (Cuba, 1902-1977)
Márgara Russotto em "As Quatro Estações da Poesia"
Edições Afrontamento, Julho de 2019
Páginas 61 e 63
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