"Abro o caderno e escrevo que estou a escrever no caderno. Por vezes a escrita dói, a tinta escorre e faz-se sangue, haver duas palavras amigas a pairar sobre o poema e ao soar da caneta só uma poder ter lugar.
Um rosto molhado aparece acenando pelo lado da chuva. Gesticula a pergunta se me encontro a escrever. Sorrio, aquiescendo. Deixa ficar um adeus e avança sobre os charcos, sem se ter apercebido de que fiquei a escrever sobre isso, sobre aquele gesto dele, no fundo a escrever sobre ele.
Não tivesse tocado no vidro, não teria entrado no poema."
João Luís Barreto Guimarães em "Lugares Comuns 1994-1995"
Sem comentários:
Enviar um comentário