"Com que preguiça a lua esta noite divaga;
Como bela mulher que, encostada aos coxins,
Antes de adormecer suavemente afaga
O contorno dos seios com a mão distraída,
Sobre o fofo cetim das moles avalanches,
Moribunda, ela entrega-se a longas dolências
E faz voar os olhos sobre visões brancas
Que sobem na atmosfera como florescências.
Se às vezes nesse globo, num langor ocioso,
Ela deixa escapar uma furtiva lágrima,
Inimigo do sono, um poeta piedoso
Guarda logo esse pingo na cova da mão
E à gota irisada, fragmento de opala,
Longe do olhar do sol, põe-na no coração."
"As Flores Do Mal" de Baudelaire
Assírio & Alvim, Outubro de 1998
Página 179
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