"Com níveis de ruído tão elevados em toda a parte, a maioria das pessoas já não tem oportunidade de desfrutar de sons reparadores da paz e tranquilidade. O silêncio natural tem sido apontado como um dos recursos mais ameaçados do planeta.
O silêncio é considerado um bem tão precioso, que o Congresso dos Estados Unidos da América e o Departamento dos Parques Nacionais emitiram uma ordem de protecção sobre o silêncio. No centro da Hoh Rain Florest, no Parque Nacional Olímpico do Estado de Washington, há uma pequena pedra vermelha que marca «uma polegada quadrada de silêncio», o ponto central de uma campanha para criar um local totalmente isento de ruído produzido pelo homem.
É difícil imaginar um lugar mais tranquilo. O parque possui algumas das maiores florestas tropicais temperadas do hemisfério ocidental. É um litoral longo e selvagem, com montanhas cobertas de neve e vales profundos. É o lugar mais silencioso da América e um dos mais intocados e ecologicamente diversificados. Espera-se com a campanha que, ao escutarmos uma polegada quadrada de silêncio, aprendamos a ouvir verdadeiramente o nosso ambiente e a valorizar novamente o silêncio natural.
É claro que o silêncio na natureza não significa sempre silêncio total. Quando ficamos livres do ruído humano, temos a oportunidade de escutar sons que apenas a natureza proporciona.
No Japão, de modo a ajudar a combater a poluição sonora, o Ministério do Ambiente gravou e catalogou uma centena de sons japoneses oficiais. Entre estes, está o agradável restolhar da floresta de bambu de Sagano, quando o vento passa por entre ela. Esta floresta é uma das paisagens sonoras mais pacíficas, e propícias a meditação, que pode ser encontrada no mundo, no entanto, está apenas a meia hora do centro agitado e ruidoso de Quioto.
O projecto também preservou o rugido da água das cataratas de Shõmyõ, a queda-d'água mais alta do Japão; o som apressado do rio Chigamigawa, em Kagoshima; as canções dos pequenos pássaros, em Enrei, Okaya; e os chamamentos dos pássaros selvagens no lago situado no sopé do monte Fuji.
Foram também gravados o restolhar dos pinheiros de Noshiro, o vento nos canaviais na foz do rio Kitakami, o zumbido das cigarras no templo da montanha Yamadera, que inspirou Matsuo Bashô a escrever, no século XVII, o seu famoso haiku:
Silêncio
O som das cigarras
Penetra as rochas
Se houvesse um som natural que pudesse preservar para sempre, qual seria?
Na língua japonesa, existem muitas onomatopeias para os sons da natureza:
shito shito: o som de chuva ligeira
zã zã: o som de muita chuva
kasa kasa: o som suave das folhas debaixo dos pés
gasa gasa: o restolhar forte dos ramos, balouçando ao vento
hyu hyu: o som do vento a soprar
goro goro: o estrondo do trovão
saku saku: o ranger da neve debaixo dos pés
"Shinrin-Yoku: A Arte Japonesa da Terapia da Floresta" de Dr. Qing Li
Editora Nascente, Abril de 2018
Páginas 37 e 38
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