"Tal como os animais, também as pessoas me pareciam ser inconscientes; olhavam para o chão ou para cima, para as árvores, para verem o que poderia utilizar-se e para que fim; tal como os animais, agrupavam-se, acasalavam e lutavam entre si e não sabiam que viviam no cosmos, no mundo de Deus, na eternidade onde tudo nasce e tudo já morreu.
Eu amava todos os animais de sangue quente, porque nos são estreitamente aparentados e participam da nossa ignorância. Amava-os, porque têm uma alma como nós e, como eu acreditava, os compreendemos instintivamente. Afinal, assim pensava, eles vivem, como nós, a alegria e o luto, o amor e o ódio, a fome e a sede, o medo e a confiança - todos os conteúdos essenciais da existência, com excepção da linguagem, da consciência aguda, da ciência. É certo que eu admirava esta última de forma convencional, mas encontrava nela a possibilidade de um afastamento e um desvio do mundo divino e uma degenerescência de que o animal não era capaz."
"Memórias, Sonhos, Reflexões" de C.G. Jung
Relógio D' Água Editores, Julho de 2019
Página 81
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