sábado, 18 de setembro de 2021

As manhãs passam claras

 "As manhãs passam claras
e desertas. Assim se abriam
os teus olhos dantes. A manhã
transcorria lenta, era um sorvedouro
de luz imóvel. Silenciava.
Tu viva calavas; as coisas
viviam sob o teu olhar
(nem pesar nem febre nem sombra)
como um mar pela manhã, claro.

Onde estás tu, luz, é a manhã.
Tu eras a vida e as coisas.
Em ti despertos respirávamos
sob o céu que ainda está em nós.
Nem pesar nem febre agora,
nem esta sombra opressiva do dia
atafulhado e desigual. Ó luz,
claridade distante, respirar
ofegante, restitui os olhares
imóveis e claros sobre nós.
É escura a manhã que passa
sem a luz dos teus olhos."



"Virá a morte e terá os teus olhos" de Cesare Pavese
Edições do Saguão
1ª edição, Abril de 2021
Página 49

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