com a prata cinzenta do mar e das conchas das nuvens
Ouço o fundo agreste do tempo
como um campo de solidão amadurecida
e as espessas cores das rochas e dos bosques
Como celebrar esta densa carícia da amplitude cerrada
este profundo leito fulvo sob túmidas umbelas
e esta sala onde se repercute a planetária calma
dos campos de silêncio silvestre
como dentro da penumbra de uma lagoa entre juncais?
É esta força calma no núcleo de um fruto
este suave ardor de quem encontrou um templo natural
sem ter saído da sua própria casa
esta clarividência cega que se casa à duração
este maduro gosto do cinzento e do húmus húmido
é esta aliança inesperada este equilíbrio denso
que eu quero amassar em palavras leais
e entregar-te como se entrega uma pérola do tempo
que me acolheu com uma espécie de ternura fluvial"
António Ramos Rosa em "Obra Poética II"
Assírio & Alvim
1ª edição, Outubro de 2020
Páginas 567 e 568
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