domingo, 28 de junho de 2020

"O mundo - que sempre tratámos de Mundo «exterior» - só se revela pela introspecção!"

" - A vida só tem pleno sentido para aqueles que aceitam a morte!"

"A verdade tem dois gumes, bem sabe. Não há processo de exprimi-la em palavras, esse estranho instrumento bifurcado com a sua dualidade básica. As palavras! Que é a luta do escritor senão a luta para usar com precisão um instrumento de cuja imprecisão está plenamente ciente? É um combate desesperado, mas que nem por isso deixa de ser reconfortante, porque é a luta em si, é essa vontade de enfrentar um problema insolúvel, o que engrandece o escritor!"

"O amor mais rico é o que se entrega ao arbítrio do tempo."

"Vivi aqui, durante um dia e uma noite, a vida de um eco, pensando muito no passado e em todos nós movendo-nos nele, as "ficções selectivas" que a vida baralha, repara, afasta e torna a reunir, como um baralho de cartas."



"O Quarteto de Alexandria" de Lawrence Durrell
Publicações Dom Quixote, 2012
Páginas 793, 817, 876 e 894 
"Conheço demasiadas autobiografias e as suas auto-ilusões e mentiras oportunistas e sei demasiado sobre a impossibilidade de alguém se descrever a si próprio para poder atrever-me eu próprio a fazer tentativas nesse sentido."


"Memórias, Sonhos, Reflexões" de C.G. Jung
Relógio D' Água Editores, Julho de 2019
Página 12
" - Difícil de entender, me dizem, é sua poesia, o senhor concorda?
  - Para entender nós temos dois caminhos: o da sensibilidade que é o entendimento do corpo; e o da inteligência que é o entendimento do espírito.
Eu escrevo com o corpo
Poesia não é para compreender mas para incorporar"


"Poesia Completa" de Manoel de Barros
Editorial Caminho, Abril de 2011
Página 186

domingo, 21 de junho de 2020

"Voltemos à questão das raízes enquanto parte mais importante de uma árvore. Provavelmente é aqui que reside algo a que poderíamos chamar de cérebro da árvore. Cérebro? Não estaremos já a exagerar um pouco? É possível que sim, mas sabendo que as árvores conseguem aprender e por conseguinte guardar experiências, então deve existir um lugar adequado para isso no interior do organismo. Não sabemos onde fica, mas a verdade é que as raízes são neste contexto as melhores candidatas.
(...)
Até aqui era facto indisputado que a raiz controlava todas as actividades quimicamente, o que não é nada de extraordinário, já que também no ser humano muitos processos são regulados por neurotransmissores. As raízes assimilam substâncias, transportam-nas, levam em troca produtos da fotossíntese aos seus parceiros fúngicos e conduzem inclusivamente substâncias de alerta até às árvores vizinhas. Mas dizer que se trata de um cérebro ... De acordo com o nosso entendimento, isso pressupõe processos neuronais, os quais incluem, além de neurotransmissores, também impulsos eléctricos. Isto é algo que somos capazes de medir já desde o século XIX. Há muitos anos que os cientistas mantêm um debate aceso. Será que as plantas conseguem pensar? Será que têm inteligência?
Frantisek Baluska, do Instituto de Botânica Celular e Molecular da Universidade de Bona, partilha com colegas a opinião de que nas extremidades das raízes se encontram estruturas que se assemelham ao cérebro. Juntamente com a transmissão de sinais, existem vários dispositivos e moléculas semelhantes ao que é possível encontrar nos animais. Ao avançar, tacteando o solo, a raiz consegue ir recolhendo estímulos. Os investigadores medem sinais eléctricos, processados numa zona de transição, conduzindo a mudanças de comportamento. Quando as raízes se deparam com substâncias tóxicas, pedras impenetráveis ou zonas molhadas, analisam o local e transmitem as mudanças necessárias à zona de crescimento. Esta altera por sua vez a direcção, desviando os rebentos dos locais críticos no subsolo. Se a partir disto se pode deduzir a existência de inteligência, capacidade de memória e emoções é actualmente posto em causa pela maioria dos investigadores botânicos. Estes ficam agitados, entre outras coisas, com a comparação dos resultados com o mesmo tipo de situações nos animais, o que, em última análise, ameaça dissolver as fronteiras entre plantas e animais.
E qual seria o problema? Viria algum mal ao mundo por isso?
A separação entre plantas e animais é afinal de contas arbitrária e baseia-se no tipo de alimentação. As plantas realizam a fotossíntese e os animais comem outros seres vivos. No fundo, as grandes diferenças existem apenas no período de tempo que as informações levam a ser processadas e convertidas em acções. Mas será que os seres mais lentos têm automaticamente menor valor que os mais rápidos? Por vezes suspeito que seríamos obrigados a ter maior consideração por árvores e outras vidas verdes se se estabelecesse sem contestação o quão parecidas são em muitas coisas com os animais."



"A Vida Secreta das Árvores" de Peter Wohlleben
Editora Pergaminho
1ª edição, Junho de 2016
Páginas 87 a 89
" ... as mulheres sentem-se atraídas pelos homens com características femininas; consideram-nos a única espécie de amante capaz de se identificar suficientemente com elas ... para livrá-las de serem simplesmente mulheres."


"Ela: - Penso, meu querido, que tens a mania da exactidão e a fobia das verdades incompletas, que é ... bem injusta para com o verdadeiro conhecimento. Mas como pode ele deixar de ser imperfeito? Não penso que a realidade tenha a menor semelhança com as verdades humanas;"


"Quando nos lançamos a pensar por nós próprios é impossível inibirmo-nos - e nós vivemos de inibições!"


"Um bom escritor deve ser capaz de escrever tudo. Mas um grande escritor é servo de impulsos que lhe são impostos pela própria estrutura da psique e que não podem desprezar-se. Mas onde está ele? Onde?"


"Simbolismo! A abreviação da linguagem num poema. O aspecto heráldico da realidade! O simbolismo é a grande oficina de reparações da psique ..."



"O Quarteto de Alexandria" de Lawrence Durrell
Publicações Dom Quixote, 2012
Páginas 757, 765, 779, 780 e 781

terça-feira, 16 de junho de 2020

"A ciência é um processo que pretende compreender o modo de funcionamento da natureza. O processo científico pode ser resumido do seguinte modo: fazer uma pergunta ou apresentar uma hipótese, criar um teste ou experiência objectivos e apresentar um argumento científico - e, de seguida, repetir. Um argumento científico usa a lógica para combinar suposições e provas. A ciência é muitas vezes incorrectamente caracterizada como a reunião e a organização de dados e como um conjunto de factos sobre os quais os cientistas concordam. A ciência é correctamente caracterizada como um processo no qual continuamos a explorar novas ideias e a mudar a nossa compreensão do mundo, para encontrar novas representações do mundo que expliquem melhor o que se observa. Parte da ciência consiste em realizar cálculos e fazer previsões, enquanto uma outra parte da ciência consiste em fazer perguntas profundas sobre como funciona a natureza.
«Cientificamente comprovado» é uma contradição de termos: a ciência não prova nada. Os cientistas têm uma visão da realidade que é a melhor que encontraram até à altura, sendo possível existir uma discordância substancial entre cada um dos cientistas. A ciência funciona muito bem quando existe mais do que uma hipótese para explicar algo de facto, a discordância estimula o progresso científico por meio de tensão criativa e esforços para solucionar a discordância. A ciência é impulsionada pela incerteza, discordância e ignorância: os melhores cientistas cultivam activamente a dúvida. Os cientistas não se concentram no que sabem, mas antes no que não sabem. A ciência é um processo contínuo de revisão que pode ser gradual, ocorrer de forma intermitente ou por meio de uma descoberta inesperada. Os cientistas lidam com a ignorância quando formulam a sua abordagem de pesquisa através de suposições e pressupostos desafiadores, curiosidade e imaginação, identificando ligações com outras pesquisas e revisitando perguntas aparentemente respondidas.
(...)
É um facto empírico que o clima da Terra tem vindo a aquecer de uma forma global desde, pelo menos, o século passado. No entanto, não sabemos quanto é que o Homem contribuiu para esse aquecimento e há discordância entre os cientistas sobre se as emissões de gases com efeito de estufa provocadas pelo ser humano são a causa dominante do recente aquecimento, em comparação com as causas naturais."



"Alterações Climáticas - o que sabemos, o que não sabemos" de Judith A. Curry
Guerra & Paz, Editores
1ª edição: Outubro de 2019
Páginas 17, 18 e 19

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Silêncio natural

"Com níveis de ruído tão elevados em toda a parte, a maioria das pessoas já não tem oportunidade de desfrutar de sons reparadores da paz e tranquilidade. O silêncio natural tem sido apontado como um dos recursos mais ameaçados do planeta.

O silêncio é considerado um bem tão precioso, que o Congresso dos Estados Unidos da América e o Departamento dos Parques Nacionais emitiram uma ordem de protecção sobre o silêncio. No centro da Hoh Rain Florest, no Parque Nacional Olímpico do Estado de Washington, há uma pequena pedra vermelha que marca «uma polegada quadrada de silêncio», o ponto central de uma campanha para criar um local totalmente isento de ruído produzido pelo homem.
É difícil imaginar um lugar mais tranquilo. O parque possui algumas das maiores florestas tropicais temperadas do hemisfério ocidental. É um litoral longo e selvagem, com montanhas cobertas de neve e vales profundos. É o lugar mais silencioso da América e um dos mais intocados e ecologicamente diversificados. Espera-se com a campanha que, ao escutarmos uma polegada quadrada de silêncio, aprendamos a ouvir verdadeiramente o nosso ambiente e a valorizar novamente o silêncio natural.

É claro que o silêncio na natureza não significa sempre silêncio total. Quando ficamos livres do ruído humano, temos a oportunidade de escutar sons que apenas a natureza proporciona.

No Japão, de modo a ajudar a combater a poluição sonora, o Ministério do Ambiente gravou e catalogou uma centena de sons japoneses oficiais. Entre estes, está o agradável restolhar da floresta de bambu de Sagano, quando o vento passa por entre ela. Esta floresta é uma das paisagens sonoras mais pacíficas, e propícias a meditação, que pode ser encontrada no mundo, no entanto, está apenas a meia hora do centro agitado e ruidoso de Quioto.
O projecto também preservou o rugido da água das cataratas de Shõmyõ, a queda-d'água mais alta do Japão; o som apressado do rio Chigamigawa, em Kagoshima; as canções dos pequenos pássaros, em Enrei, Okaya; e os chamamentos dos pássaros selvagens no lago situado no sopé do monte Fuji.
Foram também gravados o restolhar dos pinheiros de Noshiro, o vento nos canaviais na foz do rio Kitakami, o zumbido das cigarras no templo da montanha Yamadera, que inspirou Matsuo Bashô a escrever, no século XVII, o seu famoso haiku:

Silêncio
O som das cigarras
Penetra as rochas

Se houvesse um som natural que pudesse preservar para sempre, qual seria?

Na língua japonesa, existem muitas onomatopeias para os sons da natureza:

shito shito: o som de chuva ligeira

zã zã: o som de muita chuva

kasa kasa: o som suave das folhas debaixo dos pés

gasa gasa: o restolhar forte dos ramos, balouçando ao vento

hyu hyu: o som do vento a soprar

goro goro: o estrondo do trovão

saku saku: o ranger da neve debaixo dos pés



"Shinrin-Yoku: A Arte Japonesa da Terapia da Floresta" de Dr. Qing Li
Editora Nascente, Abril de 2018
Páginas 37 e 38 

Disposições Poéticas

"As estrelas tinham apenas uma função:
ensinar-me a ler
Tenho uma língua no céu
e outra na terra
Quem sou? Quem sou?

Não quero responder aqui
Uma estrela poderia cair sobre a sua imagem
o bosque dos castanheiros, levar-me de noite
para a via láctea e dizer
Vais ficar ali

O poema está em cima e pode
ensinar-me o que quiser
a abrir a janela por exemplo
a dirigir a minha casa por entre as lendas
e casar comigo. Algum tempo

O meu pai está em baixo
traz uma oliveira velha de mil anos
que não é do Oriente nem do Ocidente
Descansa talvez dos conquistadores
inclina-se ligeiramente sobre mim
e colhe-me lírios

O poema afasta-se 
Entra num porto de marinheiros que gostam de vinho
nunca voltam a uma mulher
e não sentem desgostos nem saudades
por quem quer que seja

Ainda não morri de amor
mas a mãe que vê nos cravos
o olhar do filho teme que eles firam o vaso
Depois chora para conjurar o acidente
e subtrair-me aos perigos
em que vivo, aqui além

O poema está no meio
e pode, com os seios duma rapariga, iluminar as noites
com uma maçã, iluminar dois corpos
e com o grito duma gardénia
restituir uma pátria

O poema está nas minhas mãos e pode
administrar as lendas com o trabalho manual
Mas perdi a minha alma
quando encontrei o poema
e lhe perguntei
Quem sou?
Quem sou?"



"O Jardim Adormecido e outros poemas" de Mahmud Darwich
Campo das Letras, Editores
1ª edição: Maio de 2002
Páginas 97 e 98 

Tristezas Da Lua

"Com que preguiça a lua esta noite divaga;
Como bela mulher que, encostada aos coxins,
Antes de adormecer suavemente afaga
O contorno dos seios com a mão distraída,

Sobre o fofo cetim das moles avalanches,
Moribunda, ela entrega-se a longas dolências
E faz voar os olhos sobre visões brancas
Que sobem na atmosfera como florescências.

Se às vezes nesse globo, num langor ocioso,
Ela deixa escapar uma furtiva lágrima,
Inimigo do sono, um poeta piedoso

Guarda logo esse pingo na cova da mão
E à gota irisada, fragmento de opala,
Longe do olhar do sol, põe-na no coração."


"As Flores Do Mal" de Baudelaire
Assírio & Alvim, Outubro de 1998
Página 179

segunda-feira, 8 de junho de 2020

"Mas a sinceridade e a fidelidade dela é natural, não obedece a qualquer constrangimento ético. Ela age conforme sente."


" - A autópsia das ruínas! Que conseguiste descobrir no meio delas é o que eu desejava saber. Afinal de contas ignoramos tudo um do outro, e cada um de nós apresenta ao outro ficções seleccionadas! Suponho que ninguém conhece o seu semelhante."


"A única palava «amor» serve tantas espécies diferentes do mesmo animal!"


"Talvez o nosso único mal seja o desejo de uma verdade que não podemos suportar em vez de nos contentarmos com as personagens imaginárias que inventámos."


"A mais querida, a mais trágica das ilusões é talvez crer que as nossas acções podem acrescentar ou subtrair qualquer coisa à soma do bem e do mal neste mundo."



"O Quarteto de Alexandria" de Lawrence Durrell
Publicações Dom Quixote, 2012
Páginas 706, 715, 719, 720 e 728 
«Não acreditem em nada, nem mesmo no que vos digo!», replicou Buda. «Mesmo que seja um ensinamento antigo, mesmo que seja ensinado por um mestre altamente credenciado. Devem usar a vossa inteligência e mente crítica para examinar tudo o que vêem ou ouvem cuidadosamente. E depois ponham o ensinamento em prática para ver se vos ajuda a libertarem-se do sofrimento e das dificuldades. Se assim for, podem acreditar nisso.» (...) precisamos ter uma mente discriminatória e crítica como esta.
Se não permitirmos que as nossas crenças evoluam, se não mantivermos uma mente aberta, arriscamo-nos a acordar um dia e descobrir que perdemos a fé naquilo em que antes acreditávamos. Pode ser devastador. Como praticantes de meditação, nunca deveríamos aceitar nada com base numa fé cega, considerando-o como uma verdade absoluta e imutável. Devemos investigar e observar a realidade com mindfulness e concentração, de modo que a nossa compreensão e fé se possam aprofundar dia a dia. É este género de fé que não podemos perder, porque não se baseia em ideias ou crenças, mas na realidade experienciada."



"A arte de viver" de Thich Nhat Hanh
Nascente, 2ª edição (Maio de 2019)
Página 49

quinta-feira, 4 de junho de 2020

As Estrelas na Mão

"No Verão quando o céu clareava eu costumava ler as estrelas interpretando as linhas da minha mão. E tinha um amigo que se me opunha quando lia as linhas da mão de acordo com as estrelas:
Não nos perguntávamos qual de nós era mais científico. Perguntávamos qual de nós era mais poético.
Ele costumava dizer: A Poesia é natureza.
Eu costumava dizer: A Poesia é o desconhecido vestido de natureza.
A diferença entre nós era irresolúvel, mas ficámos amigos."


"O Arco-Íris do Instante - Antologia Poética" de Adonis
Publicações Dom Quixote, Outubro de 2016
"Muitas tradições e festivais japoneses têm raízes na natureza. Na primavera, temos o hanami, ou observação de flores, altura em que realizamos festas sob as cerejeiras em flor durante o breve período em que florescem.
(...)
No outono, temos o tsukimi ou observação da Lua, altura em que nos reunimos para honrar a Lua de outono. Julga-se que o ritual tenha começado entre as classes altas japonesas, que recitariam poesia sob a lua cheia no décimo quinto dia do oitavo mês lunar, quando a Lua está mais brilhante e bonita, e navegariam em barcos, de modo a poderem admirar o reflexo da Lua na superfície da água. Os castelos eram construídos com torres especialmente projectadas para a observação da Lua. Durante o tsukimi, é tradicional reunir os amigos e a família num lugar onde é possível observar bem a Lua e decorá-lo com flores de outono e erva-das-pampas, que atinge a sua altura máxima nessa altura do ano."



"Shinrin-Yoku: A Arte Japonesa da Terapia da Floresta" de Dr. Qing Li
Editora Nascente, Abril de 2018
Páginas 37 e 38 

Hino à Beleza

"Virás do céu profundo ou surges do abismo,
Beleza?! o teu olhar, infernal e divino,
Gera confusamente o crime e o heroísmo,
E podemos, por isso, comparar-te ao vinho.

Conténs no teu olhar o poente e a aurora;
Expandes os teus odores qual noite de trovoada;
Teus beijos são um filtro e uma ânfora, a boca,
Tornando o herói cobarde e a criança arrojada.

Vens da treva mais negra ou descerás dos astros?
Encantado, o Destino é um cão que te segue;
Semeias ao acaso alegrias, desastres,
E por dominares tudo é que nada te interessa.

Caminhas sobre os mortos, que são o teu gozo;
Das tuas jóias, o Horror é das que mais fascina,
E entre tais enfeites, o próprio Assassínio
Vai dançando feliz no teu ventre orgulhoso.

O insecto, deslumbrado, procura-te a chama,
Arde, crepita e diz: Benzamos esta luz!
O apaixonado trémulo, aos pés da sua dama,
Parece um moribundo a afagar o sepulcro.

Mas que venhas do céu ou do inferno, que importa,
Beleza! monstro ingénuo, assustador, excessivo!
Se o teu olhar, teus pés, teu riso, abrem a porta
De um Infinito que amo e nunca conheci?

De Satanás ou Deus, que importa? Anjo ou Sereia,
Se tu tornas - ó fada de olhos de veludo,
Ritmo, perfume, luz, ó rainha perfeita! - 
Mais leve cada instante e menos feio o mundo?"



"As Flores Do Mal" de Baudelaire
Assírio & Alvim, Outubro de 1998
Páginas 87 e 89
"Por detrás dela brilhavam as prateleiras com os livros que Justine coleccionara, embora não os tivesse lido todos. Utilizava os textos como teclas de cristal, abrindo-os e colocando o dedo ao acaso sobre uma frase (chama-se a esta arte «bibliomancia»). Schopenhauer, Hume, Spengler, e curiosamente alguns romances ..."


"A verdade nua e impudica. Que maravilhosa expressão! Mas vemo-la sempre como ela se mostra e nunca como ela é. Cada homem tem a sua interpretação pessoal."


"Quanto tempo estive fora? Difícil calcular, pois os calendários dão poucas indicações sobre as eternidades que separam um eu de outro eu, um dia de outro dia; ..."


«Reconstituir a realidade», escrevi algures; palavras presunçosas e temerárias com efeito, pois é a realidade que nos constitui e reconstitui na sua roda lenta."


"Será a poesia mais real que a verdade dos sentidos?"



"O Quarteto de Alexandria" de Lawrence Durrell
Publicações Dom Quixote, 2012
Páginas 602 e 603, 604, 679, 680 e 695