"Então é assim: para determinar a morte natural, leva-se em consideração a posição de Hyleg, ou seja, o corpo celeste que nos transmite a energia vital do Cosmo. Nos nascimentos diurnos, trata-se do Sol e, nos nascimentos nocturnos, é a Lua e, em alguns casos, Hyleg torna-se o governante do Ascendente. A morte normalmente ocorre quando Hyleg assume um aspecto radicalmente desarmonioso em relação ao governante da oitava casa ou ao planeta que se situa no seu âmbito.
Ponderando a ameaça de uma morte violenta, tinha de levar em linha de conta Hyleg, a sua casa e os planetas nela localizados. Prestava ainda atenção, para saber qual dos planetas nocivos - Marte, Saturno, Urano - era mais forte do que Hyleg e criava com ele um aspecto negativo."
"A minha Vénus encontra-se danificada ou, então, está no exílio - é assim que se diz quando um Planeta não se encontra no signo em que deveria estar. Além disso, Plutão, que, no meu caso, rege o Ascendente, encontra-se no aspecto negativo em relação a Vénus. Esta situação dá origem àquilo que - creio eu - ma afecta: a síndrome de Vénus preguiçosa. Foi assim que chamei a esta regularidade. Trata-se de pessoas muitíssimo bafejadas pelo destino, mas que não aproveitaram as suas potencialidades. São inteligentes e perspicazes, mas não se dedicam afincadamente a estudar e aproveitam a inteligência principalmente para jogar às cartas e fazer paciências. São dotadas de beleza física, mas destroem-na por falta de cuidado, por se intoxicarem com substâncias viciantes, por ignorarem a existência de médicos e dentistas.
A Vénus preguiçosa impele a uma estranha espécie de indolência - desperdiçamos oportunidades porque ficámos a dormir, porque não nos apeteceu ir, porque nos atrasámos, porque não ligámos. Trata-se de uma tendência para o sibaritismo, para passarmos a vida num estado semiconsciente e leve, para nos dispersarmos com pequenos prazeres, para sentirmos aversão a todo o esforço e para não termos a mínima predisposição para competir.
Manhãs compridas, cartas por abrir, assuntos adiados para mais tarde, projectos abandonados. O desprezo por toda e qualquer autoridade e pela submissão. As pessoas assim seguem sozinhas, silenciosas e indolentes, pelos seus próprios caminhos. Pode dizer-se que não servem para nada."
"Tenho Mercúrio em retrogradação e, portanto, é mais fácil para mim exprimir-me a escrever do que a falar. Poderia ser uma boa escritora."
"Conduz O Teu Arado Sobre Os Ossos Dos Mortos" de Olga Tokarczuk
Cavalo de Ferro
3ª edição, Novembro de 2019
Páginas 67, 239, 240 e 262
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