"Aproxima-se de uma praia. Pode fazê-lo mesmo que se conserve imóvel. Aprendeu a escutar algumas vozes, mas nem sequer conhece a quem elas se dirigem. O seu corpo inclina-se para que fique tranquilo, assim leve, delicado. Talvez acabe por não existir nada dentro de si. A ausência é o modo como ela cresce. A manhã chega porque a tinha esperado. Fica tão longe aquilo que escutava ao perguntar apenas: será isto um vagido? Os seus ombros estremecem e ficam descaídos. Há imagens de que se recorda ainda, quando os olhos se entreabrem mais. Sabe o que vai acontecer; mas o que tantas vezes fica repetido torna-se agora para ela novo e límpido. Depois adormece por instantes. Está sozinha. É a si mesma que se encontra."
"As Raízes Diferentes" de Fernando Guimarães
Relógio D' Água Editores, Junho de 2011
Página 56
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