Anunciam-no as regueiras
pelas estradas friáveis,
o rumor brando da chuva,
o negrume de um céu
de amoras pisadas.
O vento passa
com a circunspecção
de um homem dobrado
sobre o seu cajado,
e, como ele, levanta
por um instante
a cabeça
para encher de luz
a vista cansada.
Vem.
Há muito que é esperado.
Nos lugares onde se detém,
já tudo se consumou,
já tudo se reduziu
à sua opacidade.
Os pássaros vêm beber
nas poças abertas
pelos seus passos.
Vem.
Já ouço ao longe
a revoada.
Quando chegar,
já nada denunciará
a traição
que o aguardava."
João Moita em "Que túmulo em que talhão"
Guerra e Paz Editores
1ª edição, Abril de 2022
Páginas 69 e 70
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