quinta-feira, 9 de abril de 2020

Solianka: Pendões ao Vento

"Faz alto numa aldeia habitada exclusivamente por tártaros. Visita um acampamento calmuco e fazem-no entrar na tenda do lama principal. A tenda é muito limpa, coberta de feltro branco, com pétalas de rosa espalhadas que atapetam o solo. O sacerdote mostra-lhe os ídolos e os livros sagrados. Traz-lhe o pendão de seda ilustrado com os doze signos do zodíaco. Alguns dos pendões têm orações escritas. São colocados à porta da tenda, ao vento, porque se considera que deixá-los desfraldarem-se no ar equivale a recitar as orações que contêm. O lama pede chá: as folhas e talos da planta são incrustadas num grande bolo quadrado que, com manteiga e sal, é posto em água a ferver, à maneira mongol. O resultado é uma infusão repugnante, mas o viajante bebe-a, e, a seguir, pede autorização para se retirar. Toda a aldeia sai das tendas para o acompanhar até à margem do rio. Pelo menos uma terça parte dos homens da aldeia são sacerdotes."



"Contos Completos" de Lydia Davis
Relógio D' Água Editores, Julho de 2012
Páginas 201 e 202

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