segunda-feira, 9 de novembro de 2020

"O Japão no Feminino II - Haiku ( Séculos XVII a XX )"

Será uma nuvem
ou um véu a esconder
o rosto da lua? *
- Den Sutejo

* Na cena outonal que se descreve, a lua é comparada a uma jovem tímida, relutante em tirar o véu e mostrar-se aos outros.


Floresce a cerejeira
só para ensinar ao mundo
seu breve florir? *
- Den Sutejo

* A curta floração da cerejeira é sinónimo da brevidade da vida na terra


Batendo nas folhas
e quebrando-as em bocados -
aí vem o frio.
- Shiba Sonome


Perdida nos bosques -
apenas um som de folha
cai no meu chapéu.
- Tagami Kikusha


Búzios sobre a mesa
guardando em si melodias
do profundo mar.
- Takeshita Shizunojo


O sol redondo,
a lua esguia e, entre eles,
um papagaio de papel.
- Takeshita Shizunojo


Biblioteca em fim de dia -
os gnomos saem dos livros,
brincam na penumbra.
- Takeshita Shizunojo


Uma lua
e um lago gelado
reflectem-se um ao outro.
- Hashimoto Takako


Cigarras da tarde -
rostos que passam e cruzam
sem dizer palavra.
- Ishibashi Hideno


Dia de Primavera -
um vento que vem do mar
sem que o mar se veja.
- Katsura Nobuko


Como quem remenda
peúgas, remendo a mente
e prossigo a vida.
- Yoshino Yoshiko


Será deste mundo
ou dum mundo além? No mar
o brilho do poente.
- Tsuda Kiyoko


Eis a erva morta -
a vida a jazer dormente
no rosto da terra.
- Inahata Teiko


Este som das ondas -
desenhando-as, faço parte
da cena de Inverno.
- Kuroda Momoko


Com o som das ondas
chegando à ponta dos pés,
recosto-me na cadeira.
- Katayama Yumiko


Ondas no Inverno -
põem a gente à distância,
tal é seu azul.
- Mayuzumi Madoka




"O Japão no Feminino II - Haiku ( Séculos XVII a XX )" de Luísa Freire
Assírio & Alvim, Setembro 2007
Páginas 24, 26, 36, 53, 60, 61, 74, 83, 92, 96, 104, 108, 119, 131 e 140

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