"Amo o nevoeiro porque ele me permite sempre entrar no mais profundo de mim mesmo. Caminhando ao ar livre, numa natureza que não me proporciona senão as suas margens imediatas, embora já devoradas pela abrasão de uma borracha invisível, o mundo torna-se uma simples projeção da alma, uma hipótese penetrante e um pouco fria. Estou só. Intimamente só, e enrolo-me neste pensamento como o faz o caracol na sua concha. Há na presença opaca do nevoeiro, apenas atravessado aqui e ali, segundo uma lógica indecifrável, por camadas de brancura que fazem crer em fontes de luz dispostas mais longe, a chegada de um fim do mundo benigno, sem consequências maiores e sem dor."
"Perfumes" de Philippe Claudel
Sextante Editora
1ª edição, Abril de 2014
Página 104
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