"Anda ver, Lucrécio, as tuas constelações.
Na noite bebem, animais vagarosos.
Vénus rodeia ainda o sol e sirius
na esfera celeste que foi tua.
Sem deuses, como querias, a máquina
do mundo. Ali tens, em Roma, a tua exacta
longitude. As marés chegam e partem -
ondas pontuais como as estações.
E Março tudo renova, menos o homem,
matéria volátil. O primeiro, o eco
de sua voz procuramos. Emigrante do paraíso.
E o número incontável de seus filhos
e símbolos. O segredo perigoso dos rostos,
a constância inumana do esperma,
o rastilho aceso à nascença:
gota simiesca, precipício do ser."
"Antologia Poética" de António Osório
Quetzal Editores, Lisboa 1994
Página 290
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