No médio, que no anelar fica lasso
Olho o teu anel no meu dedo
E é como se a tua história estivesse incrustada na minha mão
A fazer lembrar a tua
Deformada
Olho o teu anel no meu dedo de pedra amarela
Semipreciosa
O único que recebeste
Esse que guardaste no fundo da gaveta da tua cómoda
E que envelheceu contigo
Entre comprimidos, papéis inúteis e cartas alheias
Sem envelope
E que te esqueceste de deitar fora
No teu quarto de reposteiros gastos, fora de moda e solitários
Enlouquecidos
Cheios das tuas insónias e das tuas mágoas
Com a roupa do teu amor mal dobrada a um canto
Abandonada
Olho o teu anel de ouro antiquíssimo
Elegante
Fundido num nome que odiavas
Com as tuas memórias gravadas que o tempo não oxidou
Olho o teu anel no teu dedo
Esse que usavas em todos os teus dias
Aborrecidos
Banais
Nas tuas mãos que nunca foram bonitas
Nas minhas que são iguais."
"Roupão Azul" de Ana Paula Jardim
Guerra & Paz Editores
1ª Edição, Janeiro de 2021
Páginas 40 e 41
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