Nem do teu Volkswagen azul de bancos reclinados
Nunca gostei da forma como gostavas dele
Obstinada
Nem do barulho do motor
Nunca gostei das várzeas que teimosamente percorrias junto ao rio
Nem dos teus olhos férteis cheios de hortas e laranjais
Como o ventre das tuas mulheres
Nunca gostei quando dizias que tinhas feito estes caminhos descalço
E que depois a vida te tinha calçado
Nunca gostei dos juncos e salgueiros junto da estrada
E de como paravas e me arrastavas
Nunca gostei da tua aldeia
Nem do barulho dos sinos da igreja
Ou da cal branca nas casas de pedra
Amontoadas
Nunca gostei dos teus conventos nas encostas
Escondidos nos bosques e com descidas inclinadas
Como tu."
"Roupão Azul" de Ana Paula Jardim
Guerra & Paz Editores
1ª Edição, Janeiro de 2021
Página 28
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