um crítico literário,
um poeta zen,
uma poetisa dada à música contemporânea,
uma produtora de espectáculos de fusão,
e eu.
Eu era, naturalmente, a mais alta representante da poesia
lamechas. Eu era a da voz grossa, a que lia poemas
deles pelas esquinas da cidade. Eu era a que fazia pausas
para o cigarro, a que não tinha companhia
para tanto mar, tanto frio, tantas interrupções de medo e nicotina.
Talvez alguém tenha falado de tristeza.
É um tema que me interessa.
Eu não sei chorar, disse. Nunca aprendi a chorar.
Aflijo-me. Fico com falta de ar.
Quero chorar muito mas acabo por chorar pouco
porque tenho medo de me engasgar e morrer.
Oh, riso geral.
Esta poeta lamechas é tão engraçada, tão dada
à auto-ironia, tão menos lamechas do que nós
pensávamos.
Nessa noite, chorei muito."
"Vem À Quinta-Feira" de Filipa Leal
Assírio & Alvim
1ª Edição, Fevereiro de 2016
Páginas 20 e 21
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