Sempre acreditei que a poesia não é um ofício ou profissão, mas uma forma de vida. Um destino? Sim, é um destino. Não sei se será pretensioso dizer que se assume um destino, mas suponho que existam formas conscientes e inconscientes de eleger e assumir isso a que chamamos destino. O que é o destino? Entendo que deva ser uma necessidade, a necessidade profunda de viver de determinada maneira e não de outra, de fazer isto e não aquilo, de sentir que quando não se faz o que está dentro dessa concepção da vida ou do que a própria vida deve ser, está fora do que é de cada um. Não entendo então o destino como uma espécie de predeterminação, mas melhor do que uma determinação, uma determinação que deve ser assumida, que de alguma forma admite a liberdade de decisão.
(...)
Mas penso que quando falamos de destino em relação à poesia e criação, é preciso agregar esse outro elemento fundamentalmente humano que é a liberdade. A poesia é e não é destino. Mas é destino se abarcar acaso, necessidade e também liberdade, o que significa que em poesia não há destino sem criação. Então teria de perguntar porque se escolhe ser poeta, escolha essa que se apresenta como algo sério, como modo de vida. Escolhe-se ser poeta? É difícil dizer que sim. Existe algo que vem de trás, embora não seja uma predeterminação absoluta, que de alguma forma o prepara ou decide. Que preparação seria essa? Não sei. Nunca me convenceram as explicações dos psicólogos e psicanalistas de que as primeiras experiências de vida decidem a sua direcção. Não sei como se manifesta aqui a herança, as experiências infantis, o ter estado mais ou menos sozinho, o temperamento, se será melhor ser introvertido ou expansivo. Mas suponho que sim, que um emaranhado dessas coisas ou condições deve contribuir previamente para essa espécie de eleição a que se poderá chamar de destino."
"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 63 e 64
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