sábado, 30 de outubro de 2021

Canetas

 
"Escreveste sempre muito para quem aprendeu tarde
Cartas, sobretudo
De amor
A mulheres desconhecidas com quem te cruzavas nas ruas
Escreveste sempre muito com canetas de tinta permanente
A tentares fixar com o bico a vida no papel
Em letra desenhada e com traços bem vincados
Excessivos
Cheios de tinta e de amargura
Escreveste sempre muito com olhos analfabetos
Que existem mais verdades fora do que dentro dos livros
E o maior escritor é o que escreve a existência
A pulso
Com as mãos calejadas e doridas
E a alma sempre em desassossego
Escreveste sempre muito pela noite dentro
Numa secretária improvisada e sem gavetas
No fundo do teu quarto."



"Roupão Azul" de Ana Paula Jardim
Guerra & Paz Editores
1ª Edição, Janeiro de 2021
Página 37

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