Sem dúvida, mas assumir também uma forma de companhia. Porque não se trata da solidão como isolamento, nem como separação, nem como falta de presença. Trata-se, sim, da solidão do homem só, no sentido de um fazer e viver único que, por outro lado exige concentração, silêncio, contemplação do mais íntimo de si mesmo. Mas, por outro lado, ocorre-me que não existe forma mais plena de comunhão, de sentir a existência do outro. Porque geralmente o artista está só. Mas pensemos no pintor e em como o devem acompanhar a cor, as linhas, as formas. Como o mundo acompanha o poeta, o seu reconhecimento do homem, embora, por vezes, não o entendam ou escutem. Há outra forma de viver: é a companhia que significa a intimidade com o mundo que dá origem à linguagem da criação. Penso que no poeta mais solitário, mais separado, mais isolado, está presente toda a humanidade, toda a realidade, embora não o sinta quando em angústia, e sofra essa falta de comunicação circunstancial, aleatória, com o meio que o rodeia. Por isso é tão importante cultivar o que chamamos de solidão, mas não como singularidade irredutível, mas como o fazer do sapador que se encontra, por baixo ou nem sei por onde, com todas as coisas. A poesia, e a arte em geral, exige muita dor, muito sacrifício, uma grande quota de incompreensão, de marginalidade acidental, mas que finalmente, sem dúvida que é algo infinitamente consolador e acompanha mais que qualquer outra coisa. A arte não é uma debilidade. É uma força, embora aniquile quem a pratica."
"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 72 e 73
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