Esvoaçam os ramos no bosque,
Como madeixas soltas na dança: e como um espírito alegre
Que toca numa lira vibrante
O céu brinca com a terra, com sua chuva e seu sol,
Como na disputa amorosa
Se levanta a várias vozes na cítara
Um sem-número de sons fugidios,
Assim sombra e luz alternam num ritmo melódico
Por sobre os montes.
Antes, o céu tocara já levemente com suas gotas argênteas
O rio, seu irmão,
Agora aproxima-se, deixando cair toda a magnífica carga
Que trazia no coração
Sobre o bosque e o rio e ...
E o bosque verdejante e o reflexo do céu no rio
Escurecem e esvaem-se diante de nós
E a cabeça do monte solitário, com suas cabanas, seus rochedos,
Escondidos no seu seio,
E as colinas deitadas como cordeiros à sua volta
Envoltas em arbustos floridos
Como em lã macia, alimentando-se das claras
E frescas fontes do monte,
E o vale com suas névoas, sementes e flores,
E o jardim ante nossos olhos,
O próximo e o distante a esfumar-se, a perder-se em alegre confusão,
E o Sol a pôr-se.
Mas passaram já as ondas do céu e seus ecos,
E purificada, rejuvenescida,
A terra emerge do banho com seus filhos benditos.
Mais alegre e mais vivo
Brilha o verde no bosque, e mais douradas cintilam as flores,
Brancas como o rebanho que o pastor conduziu até ao rio ..."
Friedrich Hölderlin em "Todos os Poemas seguido de Esboço de uma Poética"
Assírio & Alvim
1ª edição, Maio de 2021
Páginas 259 e 260
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